terça-feira, 27 de setembro de 2011

E a paixão?


Já estava acostumada a ter sempre uma paixão.
A falta daquilo me sufocava. Corri atrás para recuperar a emoção, mas só recuperei a dor.
Sou meio assim, desesperada por sentimento. Carente. Odeio não sentir.
Quando a oportunidade me apareceu novamente me peguei pensando: estou apaixonada por esta pessoa ou estou apaixonada pela sensação de estar apaixonada?
Acho que é isso. Eu gosto é da sensação. Do frio na barriga, da taquicardia, da saudade, do sorriso bobo que invade meu rosto quando estou sem pensar nada, no ônibus.
A paixão sim é apaixonante.
Mas ela não vem sem um vetor, um avatar, um representante. Seria mesmo bom se pudéssemos simplesmente nos apaixonar sem depender do outro. Apenas pela sensação.
Mas não dá. E é isso que nos torna tão dependente, tão escravos, tão bobos e cegos.
O dia que inventarem uma injeção de paixão, eu estaria na fila da compra. Compraria sem dúvidas.
Já imaginou?
Toda aquela sensação boa da paixão sem precisar carregar um humano cheio de defeito no pacote, um humano que certamente nos magoará e nos fará prometer coisas que não cumpriremos, sobre nunca mais nos apaixonar.
Mas pensando bem, isso seria uma droga muito viciante. Já imagino traficantes de paixão e clínicas de reabilitação para viciados. Certamente, seria proibida depois de um tempo, pois causaria caos e desordem pública.
É...
Melhor optar por doses homeopáticas de paixão. Um pouco de cada vez. Torcendo para que um dia o efeito colateral dessa droga seja o amor... mas só vale se ele for eterno (mesmo que seja só enquanto dure).

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Café


Enquanto ela fazia o café, dançava pra lá e pra cá ao som de uma música invisível. Seus pés mal chegavam a tocar o chão. Dizia que as borboletas em seu estômago a levariam até o céu. Foi até a janela e suspirou fundo, como quem traga a vida em pétalas que brotavam de sua varanda.
O outro, deitado e com o peito descoberto, olhava para o teto fixamente. “Fiz merda!” ele pensava. “Mas foi a melhor coisa que já fiz na minha vida!”.
Um sino suave vinha da rua. Aquela manhã tinha uma cor tão própria que ela nem acreditava que tudo aquilo era real.
O perfume do café invadiu o bairro todo. Todos podiam sentir a felicidade que ela sentia. Ao respirar aquele arom0,a todos podiam sentir mais forte o sangue em suas veias e eram tomados pelo estranho instinto de dizer “eu te amo” para quem realmente amavam.
Ele levantou-se, vestiu a camisa e, descalço, caminhou até a cozinha. Encontrou-a bailando uma valsa. Sorriu, tomou-a em seus braços e pôs-se a bailar também. Dançaram ao som da música invisível e sorriram e dançaram e sorriram.
Como crianças que adoram espiar o presente antes de ganharem, foram ao quarto e olharam mais uma vez a mochila cheia de peças e ferramentas. Eles foram até lá e fizeram o que era preciso fazer, agora era só aguardar o estrondo.
Tomaram café como quem bebe felicidade. Em suas veias, o sangue corria forte. Sim, eles estavam vivos. Podiam sentir. Saíram da morosidade cotidiana para lutar pelo que acreditavam e sentiam que poderiam chegar até o céu. Eles podem.