sábado, 24 de novembro de 2007

Sons


Um som doce e confortante vem pelos ares e chegam ao meu ouvido de forma harmoniosa me fazendo viajar.
Seguindo esse som, que começa suave e cresce tornando-se mais intenso, dancei.
Dancei em meio à multidão, cantei com meu corpo, fiz dele instrumento do meu sentimento. Libertei-me.
Todos passavam, não ouviam a música, me viam dançar, e viam meu corpo sendo tomado por uma energia que eles desconheciam.
Eu dançava como se não fosse impróprio. Bailava...
Apertava meu colo e girava ao som daquela música que me tomava.
Assim a noite seguia, eu bailando, e a música, a intensidade da música, crescia...
Meu corpo já não cabia toda a energia que eu possuía, e a força saia por meus braços, pernas, tronco e quadril. Mexia-me, rebolava, fazia de mim um instrumento daquela dança...
Ouvia ao longe os bandolins.
Eles me olhavam, me desejavam, e eu não os olhava, sequer os notava. Eu só queria dançar, ficar perdida no meu eu, ficam intensamente inserida em mim.
Só...
Dançando.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Meu Lugar, talvez...


Eu era a prefeita. Não sei por qual motivo, ou quando isso aconteceu, mas eu era a prefeita. Nem mesmo saberia dizer de qual cidade. Só sei que eu era a prefeita.
Já que era assim, fiz de mim o ser. Fui prefeita.
Era de manhã cedo, o sol estava nascendo.
Havia uma praça, grande, sem árvores, apenas uns bancos e muitos carros cercando, cada um com seu porta-malas aberto e cada um com uma música alta tocando. Mandei:
- Destruam essa praça. Quero no lugar um labirinto. Um labirinto de paredes de pedras e coberto de musgos. Quero que todos entrem nesse labirinto para entender sua vida. Quero que escolham seus caminho. Quero que cada um ande por onde escolher. Quero que as conseqüências boas ou ruins do que acontecer com cada um dependa unicamente de sua escolha. Não quero que ninguém dê palpite na escolha que o outro tomar. E quando um vencer, que ele tenha consciência de que venceu por conta própria, e quando um perder, que tenha a consciência de que só fracassou por ele mesmo, que ele não pode culpar ninguém. Apenas ele foi o responsável pelo seu destino...no labirinto e na vida.
Imediatamente tudo foi feito e todos queriam entrar no labirinto. Todos entraram, mas nem todos saíram. Lá ficaram. E lá vão ficar até aprender a tomar as decisões certas.
Já era meio dia e fique com fome. Ordenei então:
- Nessa rua, nessa grande rua, quero que seja servida, em uma mesa quilométrica, um banquete. Quero todo tipo de comida. Doces e salgados, vegetais e carnes. Quero muita comida e muita bebida. E não quero ninguém acanhado. Quero que todos se sentem a mesa e quero que todos comam. Comam, se satisfaçam. Não quero ver fome.
A mesa foi posta. A comida era farta. As pessoas eram muitas. Tantas que no princípio achei que não ia ser o suficiente para todos. Porém, quanto mais comiam, mais comida surgia. Não terminava, e a fome de todos parecia também não ter fim. Mas a tarde foi passando e foram aos poucos parando de comer. Estavam satisfeitos. E o melhor, Não havia sobrado nada. Não se estragou nada.
Me vi de repente cercada de gente. Todos estavam ali, me olhando, esperando a próxima ordem. Disse então:
- Quero festa. Quero música, alegria. Quero todos dançando e se divertindo. Quero todos se amando e sendo felizes.
De um lugar indefinido, começou a tocar uma música bastante animada. Uma música contagiante. Todos que estavam ali presentes começaram a dançar. Era lindo. Via madamas riquíssimas dançando com mendigos sujos e com a roupa rasgada. Via freiras dançando com prostitutas. Haviam negros dançando com brancos japoneses e índios. Todos dançavam com todos. Todos amavam a todos. Não haviam mais distinção aos meus olhos. Todos continuavam com suas peculiaridades. Mas todos dançavam se respeitando. Respeitavam e gostavam das diferenças que haviam entre eles. Eu lá, entre toda aquela massa heterogênea, também dançava e me sentia feliz. Me sentia bem. O sol já estava se pondo.
Mas aos poucos, a música foi baixando, o labirinto e a mesa de comida foram sumindo, ficando enevoados até desaparecerem por completo, as pessoas se dispersavam. Ao meu redor, apenas um pátio com algumas poucas pessoas que andavam meio sem direção. Uma sirene tocando.
O banho de sol havia acabado, e estava na hora dos loucos voltarem para suas celas.