quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Velha, sapatão, sexualmente ativa.


Meu nome é Elena Castro. Tenho 72 anos. Eu sou lésbica. Lésbica não. No meu tempo não tinha isso. Eu sou sapatão, Maria Macho.
Frequento bingos. Na minha idade, quem não frequenta, não é? Me camuflo ao lado de dezenas de senhorinhas que são avós, que levam sua vida a cuidar nos netos.
Eu não tenho netos. Mas tenho um cachorro. É o quarto da minha vida. Amei a todos, todos me amaram. Éramos felizes.
Hoje estamos aqui.
O bingo, por vezes se torna um jogo de conquistas. Isso me proporciona um frio na barriga. Sinto-me com 25 anos novamente. Olhares, sorrisos. Sim, há muita tensão sexual em um bingo de meia idade.
Não tento ficar com mocinhas. Estou velha demais para isso. Mas imagine essas senhoras. Muitas estão viúvas. Outras têm marido impotente. Mas as minhas preferidas mesmo são aquelas que não querem morrer sem ter uma experiência sexual com uma mulher.
As coisas em um bingo são discretas. Uma conversa, um toque de leve na mão e um convite para um chá. Adoro o chá da tarde com minhas amigas. As vezes o chá se prolonga e ficamos mais que amigas.
Agora estou namorando.
Namorando. Que palavra estranha para alguém que já não pode reproduzir! Mas sim, é namoro ou quase casamento.
Ela, viúva, morava sozinha. Os filhos vinham visitar de vez em quando. Passamos a morar juntas. É bom ter com quem contar quando você acorda de madrugada com falta de ar.
Por causa dos filhos dela, temos quartos separados, mas sempre dormimos abraçadas.
O sexo? Ah, é muito bom. No começo, ela insegura por viver uma vida hétero de um marido que sequer imaginava que mulher sentisse prazer sexual. Hoje, uma mulher que não tem pudores e que descobre a cada dia seu corpo. É tão bom presenciar o desabrochar de uma mulher, descobrindo seu sexo no auge de sua velhice. Ela sorri e me diz: Antes tarde do que nunca. E dormimos, abraçadas.