quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Meus erros.


Poucas coisas nesse mundo ainda são individuais.

Poucas coisas, nesse mundo ainda podem ser consideradas inteiramente minhas.

Há coisas, porém, que não abro mão. Quero que sejam minhas e que ninguém as tome de mim.

Meus erros são algumas dessas coisas.

Eles são tão meus, tão inteiramente, tão amargamente meus, que ninguém deveria ter o direito de querer tomá-los de mim.

Mas insistem em querer até isso.

NÃO! Meus erros, e tudo que os cerca, são meus e vou lutar pelo direito dessa posse.

Não tente concertá-los, encobri-los. Eu preciso deles. Eu preciso aprender com eles. Deixe-me quebrar a cara. Deixe-me perder o que amo. Deixe-me sangrar. Tire-me dessa redoma de vidro que me colocastes onde só consigo ouvir a sua voz. Deixa-me livre pra errar e aprender com meus erros. Eu tenho esse direito.

Pare de falar. Deixe-me por minha conta. Quem sabe assim eu consiga crescer.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010


Ele não parava de se mexer na sua cama. Rolava de um lado pro outro. Alguma coisa muito séria o incomodava. Justo ele que sempre teve um sono de pedra. Ele dormia com uma paz que nenhum pecador seria capaz de alcançar. Ela dizia que ele poderia ser um anjo. Mas naquela noite ele não parava de se mexer.

Ela não conseguia dormir, e não era por causa dos balanços que ele causava na cama. Para ela, essa noite inquieta era natural, logo mais cedo havia recebido uma notícia que abalaria qualquer universo. Depois de 7 anos de casados, 3 anos de tentativas, finalmente ela estava grávida. Iriam realizar o sonho que sempre cercou o casal. Ela não cabia em si de felicidade e glória, não conseguia dormir, extasiada.

Ele até conseguiu dormir, porém não parava de se mexer. Ela virou-se, ficou olhando para ele em seu sonho perturbado, achava aquilo lindo, ficava imaginando que loucuras estariam passando por sua mente, que planos estaria fazendo para o futuro dos três, finalmente, uma família feliz.

Ele, em seus sonhos mais loucos e perturbados, perguntava-se o que deveria fazer com aquela situação, com aquela mulher que tinha um filho seu na barriga e que não amava mais. Perguntava-se o que faria com aquela outra mulher, aquela que alimentava seus sonhos há um ano, aquela que era responsável por todos os seus sonhos mais belos, aquela que ele estava disposto a largar tudo para segui-la. Aquela que dormia tranquilamente, não muito distante dali, tranquilamente, sonhando com o seu amor.

Esta outra, no entanto, neste exato momento, esbaldava-se de luxuria com o homem que amava, noite a fora, bebendo e comemorando, transando pelos becos da cidade, numa farra sem fim. Eles sorriam, cantavam e beijavam. O homem que a acompanhara agora estava especialmente feliz, tinha recebido a notícia, logo mais cedo, que sua filha o daria seu primeiro neto.