quinta-feira, 11 de outubro de 2007

E depois?

Foto de José Marafona

Por um momento me vejo correndo.

Não sei para que direção nem porque motivo.

Estou correndo.

Não sei se sigo alguém ou se estou sendo seguida, mas não paro.

No meu caminho encontro outro que corre sem saber o porque ou para onde. Ele, assim como eu, só corre. As pessoas o idolatram. Acham que ele tem as respostas, que ele deve estar indo a algum lugar que elas também gostariam de estar. Elas têm preguiça de correr na direção que elas mesmas possam escolher. Preferem segui-lo. Sem saber para onde ele vai. Apenas acham que ele sabe aonde vai. Elas estão perdidas. E procuram qualquer coisa que seja no mínimo diferente para fazer disso seu caminho. Elas o seguem. Acham que ele sabe o caminho. Mas ele não sabe de nada. Eu só sei porque eu também estou correndo e também não sei de nada.

Ele toma um rumo diferente do meu.

Continuo minha estrada sozinha. E corro. Não sinto vontade de parar.

Encontro garotos, eles estão fazendo um teste de coragem. Eles correm em direção a um penhasco. O que parar por ultimo, o mais próximo da beira do penhasco é o grande vencedor. Covardes! Precisam de algo desse tipo pra se sentir corajosos, para sentir que podem fazer algo. Precisam provar para os outros que podem ter coragem, e assim quem sabe, consigam convencer a si mesmo. Corremos na mesma direção. Eles param, muito na beira, mas pararam. Eu continuei, fui mais corajosa. Eu venci. Eu fui em direção ao penhasco. Eu caí, mas venci. Sou mais corajosa, mais que eles, fui até o final e não parei. Caí, mas venci.

Segui em direção ao chão. Ele se aproximava de mim, e eu não pensava em nada. Minha vida não passou toda por mim num segundo como muitos dizem que vêem ao ter a morte se aproximando. O chão estava se aproximando de mim e era só nosso que eu pensava. Não pensei em morte, não pensei no que eu gostaria de ter feito, não pensei em Deus, em me arrepender nos meus pecados. Apenas caía e sentia, com um certo prazer, o vento que passava por meu rosto. A queda demora, o chão se aproxima, mas não chega. Continuo caindo e apenas vivendo aquele momento. Passam coisas por mim, não sei identificar bem o que é, passam prateleiras com coisas estranhas, passa um relógio de pendulo, passam comidas, guloseimas. Pensei no centro da terra. Será que chegaria ao centro da terra? E se sobrevivesse ao calor intenso que existe lá, será que encontraria do outro lado pessoas que andam de cabeça para baixo, de olhos puxados e que falam engraçado? Uma impressão de que esse pensamento não é original meu. Devo ter visto isso em algum lugar. Em um livro talvez.

O chão está mais próximo, acho que cheguei.

Caí, morri, tudo acabou.

2 comentários:

Lívia Ferreira disse...

Apenas um cometário que acho importante fazer, para mim mesma: Poço fazer mais que isso.
Interrupções acontecem.
Não se pode deixar que essa interrupções tornem o seu trabalho menos adequado

Marlon Whistner disse...

fantastico inclusive o comentario, esse auto-conhecimento é o motivo da existencia, mas não deve ser o central, isso parece contraditório, contudo se vc viver simplesmente para busca-lo nunca o encontrará pq ele não é pra ser perseguido é apenas para vive-lo.

bjussss