quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Gritos e silêncio


Caminho entre muitas pessoas. São tantas, são tão reais, mas por vezes elas me parecem translúcidas.

Caminho entre elas, uma dor muito grande começa a assolar meu peito, olho para ele e percebo que está sangrando, então eu grito.

As pessoas não percebem. Elas não me olham. Peço socorro, peço para que alguém me ajude a combater a dor que estou sentindo. Ninguém parece me ouvir. Eles seguem seu caminho e ao passar por mim me cumprimentam. Eu continuo a gritar, a pedir por socorro, mas elas não me ouvem.

Corro por várias ruas procurando quem talvez possa me ouvir.

Penso ser inútil e me conformo achando que somente meus gritos vão fazer passar minha dor. Continuo correndo, gritando, e todos continuam passando por mim e me olhado, e me cumprimentando. Elas não estão percebendo que estou gritando. Acham que apenas estou sorrindo e acenando para elas num gesto cortês. E meu grito desesperado faz com que minha garganta arranhe, e que eu quase perca a voz.

Mas ao longe, eis que vejo, vejo uma pessoa que talvez esteja me escutando. Ela me olha preocupada, com um jeito atento. Ela se aproxima, pergunta como estou, pergunta o que estou sentindo. Não consigo parar de gritar. Ela então me dá um beijo, um beijo doce e quente; mostra-me seu peito. Vejo que está sangrando, assim como o meu. Ela segura minha mão e juntamente comigo começa a gritar. Minha dor não passa, continuo a gritar, aperto a mão dela forte e caminho ao seu lado, sem trocar palavra alguma.

Cada um do seu jeito, cada um com sua dor, em gritos que talvez não tenha fim.

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