segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Formigas?
São 4:00h da manhã, eu estava deitada na minha cama pensando em reforma das calçadas pra os deficientes visuais.
- Quantas calçadas reformaram! Será que eles estão pensando verdadeiramente em acessibilidade?
Mas um barulho que vinha de baixo da minha cama, que começou fraquinho, mas aumentava aos poucos começou a me irritar. O barulho era como gotas caindo em uma tampa de ferro, ou lata. Mas era baixinho, lá longe, lá do fundo da parte de baixo da minha cama. Mas o longe estava virando perto e o barulho se tornava insuportável. Respirei fundo, contei até dez, várias vezes, mas o barulho crescia e iria furar meus tímpanos. Tentei ignorar, mas não dava, o barulho estava cada vez mais dentro da minha cabeça.
Ainda deitada na cama, me curvei pondo a cabeça lá pra baixo. Gritei a plenos pulmões:
- Pelo visto já fizeram o dever de casa e agora querem brincar. Pois vão brincar na rua da casa da avó viúva de vocês!
O barulho acelerou seu ritmo, mas a intensidade que só crescia agora dei uma pausa. O ritmo aumentava a altura permanecia a mesma. Comecei a sambar ao som de um barulho irritante.
E até que estava divertido, o samba dos meus pés não obedecia o ritmo, mas dançavam direitinho, no ritmo de não sei o que.
Nesse instante, entra no meu quarto um batalhão de formigas, marchando em filas como se estivessem em uma guerra. Ao ver essa proeza, parei de sambar e cai dura na cama, como que desmaiada, mas ainda via tudo o que estava acontecendo. As formigar subiram organizandamente na cama, foram pra baixo de mim, e antes que eu me desses conta, estava sendo carregada por formigas que andavam em um ritmo mais organizado e sincronizado que qualquer nadadora russa.
Eles me levaram para seu ninho, indo por baixo da cama da minha mãe.
Me botaram em frente à uma abelha, que eles chamavam de formiga rainha.
Ela ficava me olhado.
Ouvi cochichos.
- Será que agora ela volta ao normal e trata de tudo como a formiga que ela é.
Ele é louco. Ela é rica?
Eu disse:
- Mas ela é uma abelha, e não uma formiga.
Ainda me falaram:
- Não não, ela está sofrendo com crise de identidade desde que o outro lá não está aqui. Ela foi pra guerra e morreu, segundo a lenda, mas era mentira, ela se escondeu e pra não correr riscos de ferir não envolvidos, só atirava bem de pertinho. Ela voltava pra casa, já vitoriosa e se escondendo das abelhas, mas ouviu muitos tiros de perto e isso fez seu miolo derreter. agora ela acha que é uma abelha. Então amarramos ela e nos comportamos como formigar, pra ela ter certeza do que ela sabe fazer.
Mas, usando seus métodos de "persuasão" até o papa abre o coração e te conta todos os pecados.
Eles vão conseguir convence-la e quando isso acontecer terei virado comida de formiga velha e louca.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Máscaras
Sentia-me rica. Talvez eu realmente fosse rica.
Tinha uma grande casa, uma grande piscina, um jardim gigantesco. Tinha roupas maravilhosas, tinha empregados. Tinha tudo o que eu gostaria de ter.
Tudo na minha casa acontecia através de simples toques em botões.
Tocava em um botão e a porta se abria.
Tocava em um botão e falava com quem quisesse.
Tocava em um botão e minha comida estava posta.
Tocava em alguns botões e eu estava banhada, vestida, penteada e maquiada para arrasar alguns corações frágeis que se deixam levar por minha aparência.
Deixava-me levar, agia como era de acordo para alguém na minha posição (segundo não-sei-quem).
Mês eu tinha um esconderijo. Tinha um lugar para onde eu ia e me escondia do mundo. Era meu cofre. Este cofre tinha tudo o que realmente me importava, coisas da minha infância. Fotos, bonecas velhas, canetas cheirosas, cds de artista que não ousava mais escutar, mas que fizeram parte de mim, cartinhas de amigos, uma chave (que não se o que abria), e muitas e muitas coisas. Somente eu poderia entrar nesse cofre, ele era o meu lugar. Para adentrar-lhe usava minha impressão digital.
Continuava minha vida de mulher rica, poderosa que agia de acordo com os maiores rigores da sociedade. Eu era respeitada pela imagem casta e séria que havia construído.
Uma imagem que eu mantinha acima de tudo. Mas meu verdadeiro eu estava ali guardado, dentro do meu cofre. E sempre que quisesse, eu ia lá, tirava minha máscara e respirava.
Assim eu continuava, eu sobrevivia, as vezes tão ocupada que demorava a voltar a me encontrar comigo mesma.
Mil botões apertados, mil problemas apresentados, mil problemas resolvidos. Vil faces usadas.
Muito tempo se passou, mas eu estava tão ocupada que nem saberia ao certo dizer quanto tempo foi.
Um dia, acordei sufocada, não podia respirar, não sentia a mim mesma. Foi assim que eu lembrei que havia uma coisa que eu sempre fazia para poder respirar melhor. Pensei, pensei, e vinha na minha mente, lá longe, um lugar na minha casa, um lugar que eu me escondia para ser eu mesma.
LEMBREI!
Era uma sala, um cofre. Lembrei sua localização. Fui até lá. Pus meu dedo indicador sobre a tela identificadora, para que a porta se abrisse. Mas nada aconteceu. Coloquei novamente, mas ainda nada acontecia. Tentei mais uma vez e ainda assim nada aconteceu.
Foi então que olhei para meu dedo, e o que vi me assustou. Fiquei perplexa, o ar que já era raro se tornou mais difícil de se puxar. Meu dedo não tinha digital. Não havia impressão nenhuma sobre ele. Os botões da minha vida fizeram eu perder o contato com o que eu realmente era.
Não restava nada a fazer a não ser me tornar definitivamente o que eu estava fingindo ser.
“Quando se usa a máscara por muito tempo, pode acontecer de que até você esqueça quem é de verdade” (V de Vingança)
sábado, 5 de janeiro de 2008
Olhe para as mãos
Estava sentada em um banco de praça. Estava escuro. As luzes dos postes iluminavam apenas alguns pontos pequenos.
Estava silêncio. Estava barulho. Não sei bem.
Sei que eu não ouvia nada, ou talvez não quisesse ouvir.
Eu estava sozinha, como sempre estive, ali ninguém passava por perto de mim.
Há um certo momento, comecei a ouvir vozes, conversas e risadas, não consegui identificar qual a língua que falavam, eles falavam muito rápido e estavam muito distantes. Olhei ao meu redor, mas o breu continuava. O vento era frio, mas não chegava a incomodar. Fazia arrepiar os pelinhos do meu braço, mas isso era uma boa sensação.
Um homem chegou, apenas um homem, um homem que de início, não conhecia. Ele sentou no banco em frente ao meu, e um poste de luz iluminava-o. O poste dele tinha um defeito. Ele piscava, e ameaçava queimar.
O homem; que antes eu não reconhecia, mas agora via algo nele que me trouxesse alguma lembrança; cruzou as pernas em cima do banco, como na posição de meditação. Olhou bem para mim. Ele estava sério. Me olhava nos olhos, bem fundo. Eu me sentia atingida por aquele olhar, como se me cortasse a alma. O olhar dele me incomodava. Pensei em desviar o olhar, queria olhar pra outro lugar, qualquer outro lugar. Mas seus olhos cortantes me prendiam, eu não conseguia ver mais nada, apenas seu olhos e seus lábios, que se mexiam, dizendo algo que tentei entender. Mas não sou boa em leitura lábial, então apenas olhava para a sua boca se mexendo, falando coisas que eu não entendia. E meu olhar estava preso. Olhos e lábios. Era em que aquele homem se resumia. Seus olhos seus lábios, e minha mente buscando-o nos mundo que eu já havia vivido.
Sim, ele estava lá, bem no fundo de minha memória, eis que eu o encontro. Era ele, aquele que ficava acordado durante a noite para me ver dormir. Isso foi há muito tempo. Ele passava noites em claro, em ficava me olhando enquanto eu dormia e sonhava com ele. E ao acordar, quão bela era a surpresa, pois ele que habitava meu sonho, estava ali na minha frente, me olhando. O seu olhar me acalmava, me enchia de luz e paz.
Sim, eu o encontrei na minha memória, mas não parecia a mesma pessoas. Antes seu olhar me dava paz e agora me dava medo. Eu só o olhava, já que não podia fazer outra coisas.
Mas seu olhar estava estava me queimando e as palavras que ele dizia e que eu não escutava eram tão altas que me deixavam surda.
Depois de muito tentar, consigo fechar meus olhos, e tapar meus ouvido, e só consigo fazer isso junto com um grito desesperado de dor e angustia. Era muito forte.
Me libertei.
Sentia-me liberta.
Mas eu era tola.
Depois de liberta da prisão que era o seu olhar, não resisti a tentação de olha-lo mais uma vez.
Ele já não me olhava. Abria uma bolsa que estava ao seu lado. Tirou dela um enorme pedaço de plástico bolha. Ele estourava as bolhinhas, e a cada uma estourada, sua expressão era de quem tinha um orgasmo. Estourava uma por uma, devagar. Olhei para minhas mãos, e meus dedos estavam cheios de nós nas juntas. Tentei estrala-los, mas eles não faziam som algum. Uma lágrima caiu dos meus olhos. E ele continuava a estourar as bolinhas.
Ele se empolgava mais e mais com cada bolinha estourada, se enrolava no plástico procurando bolhas que não estivessem ainda estouradas. E o plástico foi tomando conta de seu corpo. Eu via tudo aquilo com lágrimas nos olhos.
Ele se enrolava, e estourava ainda mais bolhas. Ele já estava completamente preso ao plástico, com bolinhas já estouradas. Ele não via isso. Eu chorava. Ele continuava a estourar as bolhinhas, e o plástico já estava tomando conta do seu rosto. Ele não percebia, eu chorava.
O plástico tomou conta do seu corpo e de seu rosto, ele já não respirava, mas não parava de estourar as tais bolhas. O plástico o sufocava. eu sentia vontade de me levantar e salva-lo, mas quando ia fazer isso, ele me olhava e me prendia novamente onde eu estava sentada. Voltava a estourar. Ele não mais respirava, mas não parava de estourar.
O ar lhe acabou, mas ele estava tão concentrado em estourar as bolhas que nem ele mesmo percebeu quando morreu. Ele caiu ali, morto, enrolado no plástico das bolhinhas.
Eu queria ter podido ajuda-lo, mas ele não deixou. Talvez ele não quisesse ser ajudado.
Amanheceu, ou pelos menos, clareou.
Agora eu já via de onde vinham as vozes que antes eu escutava.
Olhei para minhas mão e tentei estralar meus dedos. Eles estralaram. Surgiu em meu rosto um sorriso de canto de boca e uma última lágrima.
Me levantei, e andei em direção às vozes que eu ouvia e que pareciam tão felizes.