quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mais um dia

Tuntutumtumtumtumtumtumtumtum

O coração dela batia de forma desenfreada. Os olhos não paravam de se mexer. A perninha nervosa já estava em ação. Ela via todos ao seu redor correndo de um lado para outro e ela, ali, sentada, observando tudo. Barulho, muito barulho não deixava ela se concentrar no que tinha que fazer. Mal podia se mexer no seu cubículo. Os outros pareciam super preocupados, super ocupados, enquanto ela não tirava o pensamento do mundo lá fora. Mais uma vez seus olhos foram, involuntariamente, parar no relógio do canto do seu monitor. Ainda faltavam uma hora para a hora de sair. Ela estava ansiosa. Sua perna tremia tanto que a mesa começou a balançar, batendo leve e ritmicamente na mesa ao lado, fazendo um barulhinho que começou baixo, mas ao poucos se tornava ensurdecedor aos seus ouvidos. Segurou a perna com força, tentando fazê-la parar, mas a perna era mais forte e seu penteado, feito com tanto cuidado de manhã cedo antes de sair de casa agora estava se desfazendo. Colocou um chiclete na boca, achou que isso a acalmaria, mas enganou-se. O chiclete rodava por sua boca, pra lá e pra cá, entre seus dentes e língua, perdendo rapidamente o sabor. Pensou em descer, tomas um café, mas sabia que isso a deixaria ainda mais agitada. Ela, definitivamente, não precisava de mais cafeína no seu sangue. A sala estava começando a ficar quente, mas todos pareciam não perceber, andando de um lado pro outro. Tirou a parte de cima de seu blazer quando percebeu uma gota de suor escorrendo por seu pescoço. O chefe chegou ao seu lado, viu o relatório parado, começou a gritar e gesticular. Ela olhava pra ele com um olhar incrédulo e balançava a cabeça para cima e para baixo resignadamente. Na verdade, os únicos sons que ela ouvia era a batida de seu próprio coração fazendo tumtumtumtumtumtumtumtumtum. De seu chefe, mal ouvia sons abafados que a fez sorrir pro dentro, lembrando da sua infância, das vozes dos adultos nos desenhos de Charlie Brown, algo como bombombom bombombom bombom. O coração desacelerou um pouco com a lembrança agradável. O chefe saiu de perto dela, finalmente e ela voltou seus olhos para o relógio, novamente. Faltavam agora, apenas 10 minutos para a hora da saída. Novamente uma lembrança boa a fez sorrir. Lembrou dos seus tempos de colégio, de quando a campa tocava e ela e seus coleguinhas saiam correndo, atropelando o professor, coisa de criança. Imaginou todos ali fazendo a mesma coisa agora, depois de adultos, sorriu. Olhou novamente para o relógio. Marcava lindos “17:59”. Mais um doce sorriso quando presenciou o marcador mudando. 18:00. Estava livre. Desligou seu computador rapidamente, apanhou todas as suas coisas e saiu desejando bom fim de semana para todos. Em sua mente, apenas um pensamento: Sentar no primeiro bar que encontrasse e beber uma cerveja bem gelada.



terça-feira, 24 de novembro de 2009

Óia só...

Por mai qui tu andassi, por mai que tu corressi, por mai que tu vuasse, tu oiava pra trás e mi via. Eu tava lá e vô continuá lá. Tu qué saber por quê? É qui eu sô tu i tu sô eu. E que por mai que tu tentasse fugi di mim, num podi fugi de ti mermo.

Então é melhó tu pará, ficá, mi cherá i mi beijá. Pra que fugi quando tu pode ficá aqui do meu ladim, feliz?

Vorta pra cama, vem me fazê um cafuné, larga mão di olhá pra lua qui a lua não ti qué. Vorta que a noite ta fria, deixa eu ti esquentá. Deita i dormi agarradinho comigo. É isso que chamam de amá.



Caça

Cheguei correndo ao quintal de casa. A terra do local grudava nos meus pés molhados. Caminhei com cuidado entre os animais. Eles agora estavam parados, observando-me. Cada passo meu eles acompanham com o olhar Eu não podia parar. Eu precisava chegar ao fundo do quintal. Lá no fundo, perto do muro que delimitava o terreno, abaixei-me lentamente para não despertar a fúria de nenhum ser. Com as mãos e as unhas, fui cavando um buraco no chão de terra preta. Meus dedos já estavam sangrando, mas eu não podia parar de cavar. Sob minhas unhas a terra entrava sem pena da minha dor, mas sempre continuava. Os animais estavam, agora, mais curiosos sobre minha atitude.


O buraco ficava cada vez mais fundo, meu braça mal alcançava o fundo, quando finalmente encontrei o que eu procurava. Toquei-a brevemente e ao senti-la, assim, dura, voltei rapidamente para confirmar o que senti. Seu formato achatado e irregular causava na minha espinha um arrepio. Segurei com força para que não escapasse mais da minha mão e a trouxe de encontro aos meus olhos. Quando a vi brilhando, percebi que as perguntas na minha mente só aumentaram invés de diminuírem.

O que será que aquela chave abriria? Por que eu sabia exatamente onde procurar? E principalmente, por que essa vontade tão grande de procura? Novamente o frio na espinha. Olhei ao redor e os animais haviam parado de me olhar para seguirem suas vidas. Coloquei a chave dentro do meu sutiã e sai caminhando calmamente, vagarosamente, voltando para dentro de casa. Ainda tinha muito que descobrir.


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Logo Agora...

Se você quer mudar, mude bem devagarzinho, pra você se acostumar com o seu novo “eu”. Corra descalço de vez em quando, e de salto alto quando precisar. Entre de roupa no mar, e quando puder, vá sem roupa nenhuma. Dance na sala da sua casa, ao som de qualquer música, e na falta de uma música, cante. Mas tenha pena de seus visinhos. Não pense que você vai jogar um papelzinho no chão e não vai fazer diferença nenhuma. Imagine seis bilhões de pessoas pensando a mesma coisa. Gestos simples podem fazer toda a diferença. Detalhes podem significar muito. Vá à praia, pegue sol, mas não esqueça o filtro solar. Proteja seus olhos, eles podem falhar mais cedo do que você imagina.

Permita-se. Troque de roupa, de cardápio, de emprego. Mas mantenha seus amores.

Respire. E respire mais ainda se alguém lhe fizer raiva.

Se você quiser mudar, comece pelo cabelo, mas nunca mecha no seu nariz. Ele é sua identidade mais do que sua impressão digital. Quando pensar em beleza pense em você e esqueça os padrões. Não esqueça que nem as modelos são tão perfeitas como as revistas mostram.

Há pessoas capazes de ser várias durante a vida, e há pessoas que passam a vida toda sendo uma só. Isso depende de cada um. E não se sinta estranho por ser um ou outro.

Seja.

A essência é algo que deve ser respeitado, sempre.

Não permita que ninguém desrespeite quem você é.

Mas viva e viva intensamente.