quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Devaneios da madrugada




Belém, 27 de junho de 2008
3:37h

Novamente me encontro aqui, o suor escorre e desce colinas e montes, buscando o vão de minhas pernas cerradas acrescidas de falso pudor. Mais uma vez grito e tento sufocar o som ensurdecedor que sai do teu silêncio. Mas a apatia tem tomado conta de mim e emoções fortes não me fazem mais chorar. Apenas servem para ver pena nos gestos que me rondam, fazendo até parar meu coração de tanta dó. Mordo os lábios fremidamente e o peito palpitando vendo a carne se mover até rasgar, sangrar e desse sangue o olor da vida se esvaecendo de mim.
Um punhal sobre a mesa convida de forma gentil a encontrar-se com minhas entranhas. Ele sorri delicadamente, hipnoticamente. Minhas mãos trêmulas deixam o susto. O outro toma conta e em um segundo, não vejo mais nada, apenas aqueles que ainda vivem em escuridão dentro de mim e gritam pedindo para fugir. “Não há vagas” ouço alguém gritando e quando tudo passar todos esses vão se libertar, nadando sobre meu sangue que escorre pelo assoalho, penetrando pelas frestas da madeira formando um desenho vistoso. As flores agora emitem veneno junto com seu perfume, que vicia e inebria. Apenas quero chegar até lá viva. Já não me importa mais se estarei inteira, ou se serei eu ainda, mas vou chegar lá viva e lá verei quem também venceu. Apenas lá os vencedores triunfam. Lá a missão terá terminado.

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