Todos os dias ele acordava cedo, saia para correr, voltava
para a casa já com o pão e tomava café, sossegado. Arrumava-se impecavelmente,
dirigia até seu trabalho, respirando fundo para não se irritar com o trânsito.
No trabalho dava tudo de si para ser reconhecido, conseguir uma promoção, um
aumento e quem sabe, uma sala só para ele. Ao fim do expediente, saia com os
amigos para tomar uma ou duas cervejinhas, nada que pudesse comprometer seu
rendimento no da seguinte.
Seguia para a casa, às vezes sozinho, às vezes acompanhado.
Às vezes dormia fora. Era bonito e dificilmente alguma mulher resistiria a seu
charme.
Um dia, um desses que eram iguais a todos os outros, começou
a chover, algo também, muito corriqueiro. Mas um relâmpago chamou sua atenção.
Meio instintivamente, foi aproximando seu rosto do vidro fechado, observando aquela
chuva caindo lentamente, com toda beleza e poesia que ele jamais tinha
observado. Aproximou-se mais do vidro e observou.
O vidro não embaçou. Não ficou turvo, não esquentou. Algo de
estranho acontecia. O que? Prestou atenção em si e viu que não respirava. Ele
não respirava e não sabia há quanto tempo estava assim. Fez um esforço, as o ar
não vinha. Ele continuava sem respirar e aparentemente seu corpo não sentia
falta.
Fez um esforço para lembrar-se de seu último suspiro, da
última vez que se sentiu vivo. Desde que deixou de amar, desde que deixou seu
amor ir embora por suas dúvidas e incertezas. Desde então ele não mais vive,
não mais respira. Apenas existe, como um morto-vivo caminhando sem alma.
O ar não quer entrar em seus pulmões e só agora se deu
conta. O que fazer? Pensou. Ou novamente ama ou morrerá assim, sufocado, sem ar
e sem senti.
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