sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Depois daquela noite


O sono tomava conta de mim depois de uma noite de chuva.
O sol entrou pela janela, e como um amante doce e meticuloso, me beijou a face. Mais um dia se fez e os meus desejos de morte da madrugada anterior não haviam se concretizado.
É hora de levantar, lavar a cara inchada com água gelada e enfrentar o mundo. Mesmo que ele me odeie, mesmo que ele me ame, mesmo que ele nem ligue para minha existência, tenho que enfrentá-lo.
Arrasto-me para o chuveiro como quem é mandada para a forca. Sento-me na banheira seca. Ligo o chuveiro e sinto a chuva artificial arrepiando minha pele. A pupila se contrai. Era a primeira ver que realmente abria meus olhos naquela manhã.
Ao meu lado, o meu pequeno chuveiro. Aquele que sempre está lá para mim, nas minhas manhãs, tardes ou noites solitárias. Penso por um instante se aquilo poderia me animar neste dia fadado ao fracasso. Penso “foda-se, um orgasmo é sempre bem vindo”. Lentamente, como se não houvesse mundo lá fora, o alojo entre minhas pernas e ligo o jato. O calor que sobre em mim é instantâneo, finalmente me sinto acordada. Aproveito o doce instante que é só meu. Penso “tenho mais fogo porque me masturbo ou me masturbo porque tenho mais fogo?”. Não sei a resposta, mas não quero saber. Apenas sinto meus dedos passeando por dentro de mim, completando aquela deliciosa sensação carnal. Quando as contrações mais fortes se iniciam, já não estou na minha banheira, estou em outro lugar qualquer, mas estou exatamente onde gostaria de estar.Dá vontade de não parar, mas a água escorrendo pelas laterais do recipiente em que me encontro me lembram do mundo lá fora.
Onde está o choro preso na garganta? Onde está a tendência suicida? Onde estão meus medos? Saio da banheira e me encaro no espelho. Sou outra. Não a mesma que entrou. Outra, muito mais ousada e disposta a vencer o mundo. Sei que essa força vai durar enquanto durar a sensação de relaxamento profundo dentro de mim, porém, melhor esses minutinhos que nada. No quarto, faço minha maquiagem impecável, que tornará aquela perdedora numa mulher extremamente segura de si.
Apenas um pensamento agora: Se eu encontrasse a pessoa que inventou esse chuveirinho, eu dava para ela.

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