Medo. Acho que é isso.

Caminho pelas ruas, imagino estar segura de tudo. Nada pode me atingir. Caminho mais um pouco.
Sinto muitos olhares na minha direção. Olhares famintos de alma. Eles querem minha alma.
Sinto cheiro de sangue, está em todas as direções. Ele infestou o ar. Sinto cheiro de sangue fresco. Não sei de quem é, nem sei o motivo pelo qual ele está infestando o ar que respiro. Não me interessa, só sei que não é de mim que está vindo esse cheiro..
Os olhares me perseguem, eu continuo caminhando e eles me perseguem. Vão aonde eu for.
Ao longe vejo pessoas, elas vêm na minha direção.
Não tenho medo de pessoas. Tenho medo de doenças, alguns animais e de balas perdidas, de carros, mas não de pessoas. Mas me vejo questionando: Quem dispara a arma de onde sairá a bala? Quem conduz o carro que poderá me atropelar?
São pessoas. Sim. Eu tenho medo de pessoas. Tenho medo de seres iguais a mim. Tenho medo de seres que por possuírem várias da mesmas características que eu, foram colocadas no meu reino, no meu filo, na minha classe, na minha ordem, na minha familia, no meu gênero, na minha espécie. Elas são iguais a mim. Então, por que teme-las? Sou igual a elas, então, tenho medo de mim?
As pessoas ainda caminham em minha direção e eu continuo caminhando na direção delas. Nos cruzamos, foi apenas um segundo, tive medo. Elas se foram. Não se lembrarão de mim, nem eu deles, da mesma forma, eles nem imaginam o quanto marcaram minha vida.
Elas marcaram.
Agora me sinto menos gente. Tenho medo de gente. Tenho medo desse bicho estranho. Eu não sou como esse bicho estranho. Se esse bicho estranho é gente, então eu me recuso a ser também.
O olhares continuam vindo na minha direção. Agora são olhares de estranhamento. Não sou mais como eles.
Agora sou bicho.