terça-feira, 25 de setembro de 2007

Em mais uma noite

Hoje foi algo mais normal.
Hoje foram as paredes se liqüefazendo, pareciam chocolate derretido.
Era algo mole, e começavam a escorrer para junto dos meus pés. Eu tentava tirar, mas não dava. Logo eu tinha parede líquida até minha cintura. Não conseguia sair por cima e quanto mais me mexia, naturalmente, mas ficava presa.
Precisava vencer o nojo, ter coragem de partir para o tudo ou nada, mergulhar e "nadar" naquele meio plasmático até sair de seu domínio. Mergulhei, não podia respirar, não podia abrir meus olhos, somente podia tentar sair pelo lado que julgava ser o menor. Ali, naquele meio misterioso, diferente, de olhos fechados, minha imaginação começou a dar conta do que eu poderia encontrar no caminho.
Rapidamente, o caminho que era para ser de somente três metros se transformou em um caminho grande, imensurável. A partir daí passo a sentir caldas acariciando meu rosto, sinto mãos estranhas me tocando, me medindo; entro em desespero.
Começo a nadar com toda a minha força, tentando me mover naquela plasma espesso, mas está cada vez mais difícil, o cansaço começa a tomar conta de mim, o ar começa a me faltar.
Minha mão que estava a frente do meu rosto pode, enfim, sentir o ar; eu havia chegado. Luto para buscar um pouco mais de força para levar meu rosto junto a minha mão. Mas as forças estão se esgotando e talvez não consiga, foi o que pensei. Morreria na beira da praia.
Minhas forças terminam, somente foi o tempo de meu nariz sair.
Todo o resto do meu corpo ainda estava dentro daquela matéria.
Meu nariz saiu, ele pode respirar. Mas estou exausta, não consigo mover nenhuma parte do meu corpo. Conseguia somente respirar.
Daí se fez necessária a paciência. Esperar que, lentamente, minhas forças fossem recuperadas para consegui sair daí. Já não tinha medo dos monstros do desconhecido, pois eu estava viva, contra todas as expectativas.
Minhas forças voltaram, e consigo sair dali, não sem grande esforço.
Estou suja, suja de uma massa sem cor definida, que vai do magenta passando pelo ciano e lembrando o amarelo. Essa massa indefinida parece querer secar em meu corpo, não deixar eu me ver livre dela. Mas me descobri forte e paciente. Ela vai sair, em sua maioria vai sair, talvez deixe ainda um pouco dentro do umbigo ou atrás da orelha, para sempre lembrar-me que sou forte quando sou paciente.

Um comentário:

Charlyane Silva disse...

Moça...não comentei antes por falta de tempo mesmo...
Mas eu tbm adorei esse texto nas paredes se liquefazendo...muito bom mesmo....estou agora mesmo colocando o endereço do teu blog em meu orkut, para o povo ler que existe uma artista meio ao meu ciclo.bjs