- Shiiiiiiiiiii, cuidado, as paredes tem ouvidos.
- Ah, se esse sofá falasse!
- Sinto, as vezes como se aquele quadro estivesse me observando.
É assim que se fala, mas hoje todas essas metáforas se fizeram reais.
O sofá começou a falar coisas absurdas, começou a me acusar. Disse que eu não respeito nada nem ninguém. Disse que viu tudo o que eu já fiz sobre ele, ou ao seu lado.
Foram tantas coisas assim?
Não lembro.
Para mim não foram tantas coisas, ou melhor, não me parece tanta coisa quando se divide tudo e se espalha por esses dois anos em que ele está presente em minha casa, em minha vida.
Mas o sofá só tem essa noite pra listar tudo o que viu, e dessa forma, juntando tudo o que ele presenciou se torna muito, até nojento. Sou uma pessoa sem nenhuma noção de moral. Estou com nojo de mim mesma quando ouço ele falar sobre mim dessa forma.
A parede então, ela já ouviu todos os meus delírios, sentiu toda a angustia que já transmiti, e foi a única a escutar minhas blasfemas. Ela conhece todos os meus segredos. Devo teme-la?
Mas por que teme-la? Não posso gostar mais dela por ela me conhecer tão bem? Por que o primeiro sentimento que vem em mim é o medo? Sinto medo daqueles que me conhecem? Medo, pois eles sabem bem onde é o meu ponto fraco e num surto de maldade eles podem me derrubar.
Mas devo aprender a confiar. Esperar sempre o melhor de todos os seres que me cercar, seja eles animados ou inanimados. E assim, quando mais tarde meu julgamento vier direi: EU CONFIEI. E estarei com minha consciência tranqüila. Sim, eu confiei.
Mas ainda há os quadros, os olhares das imagens do meu irmão, do Renato Russo, de uma pequena imagem de Jesus, eles me seguem, me vigiam. Eles não me deixam em paz.
Vejo nesse instante o Big Brother em minha casa. Ou até o panótico, não sei em que momento exatamente a tela estará ligada pro meu lado, não sei se eu estarei sendo observada nesse instante, por isso devo me comportar bem em todos os momentos.
O sofá conversa comigo, as paredes me ouvem e os quadro me vigia...E eu achando que tinha me libertado.
Onde quer que eu vá eles me olham. Tudo que está ao meu redor me observa...
Eles vão estar sempre ali...observe, sinta os olhares sobre você também.
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
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