quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Febre e sonho

A febre diminui, diminui quase passando.
Ainda há delirios, mas são mais amenos.
Agora me vejo como uma espécie de Jesus Cristo, ando sobre as águas, me afasto de terra firme como se quisesse alcançar o infinito. Olho ao meu redor e só vejo água.
Uma água turva, escurecida, firme como rocha, não molha, mas sei que é água. Não sei como sei, apenas sei. Estou sobre ela.
Meus passos são longos, e cada um acontece como se eu tivesse cem metros de pernas. Mas ainda sou do mesmo tamanho. Sei porque posso me comparar com o tamanho de um pequeno barco que passa por mim.
Dentro desse barco tem um velho, ele está amarrando o que talvez seja o maior peixe que capturará na sua vida. Não sei exatamente como, mas posso ver que os tubarões vão comer esse peixe que tanto custou ao velho pescar. O tubarões vão comer, mas o velho não vai desistir e ainda vai lutar bastante até cair de cançasso e sem mais recursos.
Dou mais um passo, somente um, e o velho já está tão longe que minha vista não mais alcança.
Vejo pelo céu uma revoada de gaivotas. O velho me ensinou que isso é sinal de terra. Estou proxima da beira, talves só mais um passo e chego ao meu destino (não me lembro de ter traçado um destino).
Mas não...
Ando em direção a beira, já avisto a praia, mas não consigo alcança-la. Dou muitos passos, mas pareço não sair do lugar.
A água já não é mais tão firme. Ela agora molha. Ela está me consumindo.
Estou sendo testada. Pedro também andou pelas águas, mas teve medo e afundou.
Ele não teve fé. E nesse momento a fé parece que está me faltando, pois estou afundando. Estou com muito medo. Por mais que uma voz dentro de mim fale, calmamente, para eu não ter medo e para subir de volta a superfície...Tento confiar mas não consigo...
Continuo afundando...
Acordo.
A febre está ainda mais alta.
Minha cama está molhada de suor, da fobre, do medo, ou será a água do mar que a pouco me afogava?

Um comentário:

Allan Maués disse...

é tudo calor
de um corpo a outro
e desse para mais um
daqui pra lá
sem eira nem beira. a febre que te pegou
também me achou.
desde então eu não paro de sonhar!