segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

NÚPCIAS


Ela estava linda de véu e branco. Os olhos dele brilhavam como nunca. Sorriso e canções embalavam a noite sublime de total entrega.
Beijos e desejos traziam, da madrugada, toda solenidade que o evento merecia. A beira-mar, numa noite cheia de estrelas, luzes ao longe e silêncio total. A entrega finalmente seria completa e um seria do outro como nunca foram antes. A pureza dela contrastava com a experiência dele, materializados pelas vestes de cada um.
Mais que de repente, o branco ganha uma mancha vermelha que foi se espalhando e tomando toda pureza antes declarada, em um todo de pecado e luxúria. Ele agora se portava como uma criança e chorava com o polegar na sua boca. Ela o segurava firme no colo, como quem segura um bebê para dar-lhe de mamar.
Ele chorando, ela, o confortando, com aquele vestido mesclado de pureza e pecado. A pele havia se rompido. Era somente o que faltava. Todas as outras formas de prazer já eram cotidianas, mas ele não sabia. Ele havia se mantido puro até o último segundo. Ela luxava mantendo o da frente para aquele que seria seu marido.
A noite se acabara assim:
Ela virgem, mas não casta e ele casto, porém, tendo suas próprias mãos lhe tirado a virgindade.
Apenas aparências como termômetro da consciência.
Não foi como havia de ser?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Apenas por mim





Alguém sabe o quanto eu caminhei? Ou melhor, o quanto eu nadei num rio de lágrimas produzidas por mim mesma, antes de perceber que eu estava me afogando, como Alice?
Apenas EU, minha pessoa.
O mundo, com todos seus Big Brothers, pensam conhecer, entender, mas não há, nunca houve uma câmera na nossa cabeça.
Mesmo com o implante ZOE, apenas o que dão defeito podem me conhecer pessoalmente.
Apenas a minha mente me liberta, apenas minha imaginação é capaz de me mostrar o que é real.
Trabalho, estudo, voto, compro, ajo, mas minha mente, essa ninguém poderá aprisionar.
Tenho chorado, muito, tenho envelhecido dez semanas nas ultimas horas.
Até que um estalar de dedos me desperta para o que é real: minha mente, meu ego, meu id. Deixo meu superego de lado, ele não serve pra mim. Ninguém tem o direito de me punir por eu ser quem eu sou, se eu não prejudico a ninguém além de mim mesma.
Isso se é que eu me prejudico...
Pode ser que o seu remédio seja o meu veneno. Não tenho como eu saber se eu não provar, se eu não experimentar.
Minha mente, hoje, grita em festa.... EUREKA!
Acho que encontrei!!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Eva

Ela, sentada no consultório médico, esperando sua vez de ser atendida, imaginava que tipo de doença poderia ter.
Imaginava câncer que um câncer em estágio terminal dominava seu intestino.
Imaginava que uma ulcera do tamanho de um limão, em seu estômago.
Imaginava um efisema no seu pulmão direito, que teria adquido por conviver com fumantes, malditos amigos fumantes.
Imaginava que uma gangrena interna se alastrava por todo seu corpo.
Imaginava um coágulo no seu cérebro
Imaginava o entupimento de uma artéria.
Seus vinte anos não transpareciam seu pessimismo.
Havia acompanhado, angustiada, o caso Eloáh, e espera para conhecer o assassino da menina que foi encontrada na mala, em Curitiba. É socialmente preocupada, mas em silêncio, deseja que o ônibus que está viajando sofra um acidente e exploda.
Não era internada desde seus quatro anos e a única doença que teve, desde então, foram algumas dores de cabeça, por ficar muito tempo no sol. Sequer uma cárie havia tido.
Agora, lá estava ela, na sala de espera do hospital. Era um exame de admição para seu novo emprego, em que receberia um salário mínimo + vale-transporte. Suficiente para ela que morava com os pais e não tinha gostos caros.
- Eva Maria Nunes Silva.
Ela se levantou e entrou no consultório do clínico geral.
Ele fez muitas perguntas, olhou seus olhos e sua língua e leu o resultado dos exames de sangue, urina e fezes; exigidos pela empresa.
A consulta durou 15 minutos. Ela falava de alguns sintomas estranhos, que poderia ter apenas imaginado, e demonstrava preocupação com a saúde, sendo que no fundo, desejava uma doença que a matasse vagarosamente.
Saiu do consultório de tal forma que seus pés não tocavam o chão. O salário que receberia já não era suficiente. A doença que desejara, teria nome e sobrenome. Eva estava grávida.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Corrida


Estou correndo há muito tempo. Tanto tempo que nem sei. Quando saí de casa, o sol começava a aparecer no horizonte. Correr é bom. Não sei há quanto tempo corro. Nem fome, nem sede, nem cansaço, nada, apenas corro.
Estou molhada, de suor e da chuva que tomei. É noite alta, não sei que horas, mas já atravessei a acidade depois que o sol se pôs.
As pessoas que passam por mim mais parecem borrões de tinta, não posso defini-las, sequer reconhecê-las.
Quando um carro vai entrando, entro também, como uma sombra, a espreita, invisível. Ele está acordado, sempre está. Subo pela escada, para não parar de correr. Ele atende a porta sem saber ao certo o que acontecia e se espanta ao vislumbrar minha figura. Entrei sem pedir permissão, já era rotina, fui direto ao seu quarto, tirei a roupa e tomei banho.
Nua, voltei ao quarto e deitei ao seu lado. Ele estava coberto até a cintura. Depois de tempos olhando para o teto, ele tenta começar algum diálogo, mas gagueja. Interrompo-o:
- Encontrei. Finalmente encontrei.
Virei-me e o abracei, com isso, encosto levemente meu seio em seu peito, e percebo a reação de seu pau, que discretamente aumenta de volume, por baixo da coberta. Ele põe a mão no meu ombro e dá um beijo na minha testa:
- Quero que sejas muito feliz.
- Tenho sido. Vou tentar não estragar tudo dessa vez.
Adormeci em seu colo. O quarto estava muito frio, o ar condicionado estava no máximo.
- Da ultima vez, você não estragou nada. Só me esqueceu por saber que eu queria isso. – Como resposta, apenas me encolhi em seu colo.
Não sei quanto tempo estive dormindo, mas ainda era escuro quando percebi que ele finalmente dormia depois de três meses de insônia.
Levantei, me vesti e saí. Precisava correr; investir no outro dia.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Só isso...

- Você já bebeu de mais!
– Alesson falava como se pudesse me influenciar em alguma coisa.
- Ainda nem comecei.
– Eu não queria parar, achava que tudo ainda seria pouco pra esquecer o que u estava sentindo.
- Vem, vou te levar pra casa.
- Não. Eu não vou pra casa agora. To bêbada, não quero chegar em casa assim. Todos vão ver que eu to com dor de cotovelo.
- Então vem, você vai pra minha casa. Toma um banho, toma um café e quando estiver melhor eu te levo na tua casa.
- Tudo bem.
Alessom era um amigo fiel. Mesmo nos momentos mais difíceis, estava sempre ao meu lado. Eu sabia que ele gostava de mim, mas tentava fazê-lo entender que eu só era sua amiga.
Ele estava me ajudando naquela noite de dor de cotovelo. Meu namorado havia me deixado sem dar muitas explicações, quando eu achava que estava tudo lindo e maravilhoso.
- Mudei de idéia – estávamos no carro, já a caminho da casa de Alessom – vamos a outro lugar.
- Já é meia noite, você ta completamente bêbada. Onde você quer ir?
- Em algum lugar onde eu não possa pensar.
- Não, minha casa já é na próxima quadra.
Não gostei, mas no estado em que eu me encontrava, não tinha condições de protestar.
Ao chegar, entramos e eu fui logo me jogando no sofá. Não queria fazer nada, só dormir.
- Vem, é bom você tomar um banho.
- Faz um café pra mim?
Alesson foi pra cozinha e eu fiquei na sala. Espertei-me um pouco e pus um cd pra tocar. Vi as bebidas no bar do Alesson e quis um conhaque. Servi-me. Quando Alesson voltou à sala, eu dançava ao som daquele blues, e bebia mais. Ele tirou o copo da minha mão.
- Você não deve mais beber.
- Dança comigo.
Abracei-o e continuei dançando. Ele meio tímido, timidez típica de quem está sóbrio e com vontade de estar bêbado, dançava meio sem jeito.
- Vem, você tem que tomar um banho.
- Dança comigo.
- Vem.


Ele foi dançando e me puxando em direção ao banheiro. Tirou minha blusa, e eu não protestei, mas senti seu coração bater mais forte. Tirou minha saia me deixando só de calcinha e sutiã. Ligou o chuveiro e me empurrou para baixo. Gritei:
- Ah! Você não deveria ter feito isso! - Puxei-o para o chuveiro também. Ele que ainda estava de calça jeans e blusa – Tira isso.
Tirei sua blusa. Ele fazia falsos protestos:
- Lia, para. Você ta bêbada, Não sabe o que ta fazendo.
- Você quer mesmo acreditar nisso? Relaxa.
Ele segurou com força meus braços para que eu não pudesse mais acariciar seu peito, como eu estava fazendo até então.
- Não quero ser um arrependimento seu.
Dei um selinho, seguido de uma mordiscada em seu lábio.
- Relaxa.
Ele ficou me olhando. O chuveiro ligado. Ele estava ofegante. Eu também. O frio e a situação me deixavam toda arrepiada. Meu sutiã havia ficado transparente, e dava pra ver meus seios com os mamilos durinhos. Minha boca entreaberta. Ele segurando meus braços ao lado do meu corpo. Sorri, beijei-o mais um pouco. Ele não se mexia.
- Fala alguma coisa, faz alguma coisa. – Eu disse.
Ele subiu as mãos dele desde meus pulsos até meus ombros, abaixou a cabeça, e encostou nos meus ombros.
- Você me deixa louco, sabia. – Ele estava ofegante.
Virei meu rosto, e falei em ao pé de seu ouvido:
- Sempre soube – mordi o lóbulo de sua orelha e o abracei forte, até sentir o quanto ele estava excitado.
Ele não resistiu mais. Passou a beijar meu pescoço, até chegar a minha boca. Nos beijamos intensamente. Suas mãos, nas minhas costas, me apertavam, me faziam perder o ar. Ele realmente havia esperado muito por aquilo.
Desabotoou meu sutiã e eu abri os botões da sua calça, abri o zíper e o deixei só de cueca.
Ele se afastou um pouco, olhou meus seios, como se fossem as coisas mais belas do mundo. Acariciou-os, apertou-os, e eu gemia, de prazer e dor. Empurrou-me contra a parece, me fazendo sair do chuveiro. Levantou-me um pouco e pôs-se a sugar meus seios, com força e mordiscar os mamilos. Eu ficava louca com aquilo, apertava sua cabeça ainda mais contra meus seios, como se quisesse que ele entrasse em mim. Ele passou a sugar com mais força, e a morder até. Minhas mãos pelas suas costas, eu o arranhava. Quanto mais ele me sugava, mais forte eu o arranhava, e mais forte ele me sugava. Estávamos completamente tomados pelo desejo.
Ele então me soltou, ma virou de costas, e pôs-se a beijar minha nuca. Suas mãos e boca passeavam por meu corpo, descendo pelas minhas costas, cintura, até que chegaram à calcinha, que ele tratou de abaixar até meus pés. Voltou beijando minhas pernas, minha bunda, minhas costas e minha nuca. Abraçou-me, pos suas mão em meu sexo e me puxou para ele. Senti toda sua excitação através daquele pênis grosso, e rígido. Virei-me de frete para ele, beijei-o, e da mesma forma como ele acabará de fazer, desci, com minhas mãos, e meus lábios por sei peito, sua barriga, até chegar a sua cueca, que levei até o chão. Subi beijando suas coxas e parei para beijar seu pênis que latejava de tesão. Quando o abocanhei, com todo meu desejo, Alesson deu um grito. Chupei muito, ele se contorcia e acariciava meus cabelos. Foi quando pareceu não mais agüentar. Me levantou, voltou a beijar minha boca, a morder meus seios, e meus pescoço. Levantou as minhas pernas. Eu estava louca de tesão, e quando ele fez isso, com tanta força, que eu gozei antes mesmo que ele encostasse em mim de fato, só de imaginar o que estaria por vir. Ele, ao ver isso, estremeceu e começou a passar seu pênis rígido em mim, no meu buraquinho que escorria meu gozo. Ele passou a mão por entre minhas pernas e introduziu seu dedo em mim, depois, levou-o até a minha boca, passou por meus lábios fazendo eu provar do meu próprio sabor.
E beijou minha boca com aquele gosto de gozo. Estava curtindo o beijo e desejando mais. Ele me envolveu muito no beijo que nem percebi quando ele, com toda sua força, enfiou em mim seu pau, sem pena. Dei um gripo, pois era realmente muito grande, e de início, doeu.
Ele me comia com força, e me beijava. Eu louca, completamente enlouquecida, rebolava e puxava-o ainda mais para cima de mim. Nos beijávamos e com mais força e enfiava em mim. Gozei novamente, e enterrei minha unhas nas suas costas, o que fez que ele soltasse um grito, e enfiasse com mais força. E quanto mais ele enfiava, mais eu gritava e pedia por mais. Foi quando não só a força era grande, mas a velocidade aumentou muito, e eu não conseguia mais ver nada, minha vista estava embaçada, e ele me apertava firma, mais rápido e forte, até que ele gozou em mim. Seu líquido quente, pôs-se a escorres pela minha perna.
Ele parou, respirou:
- Você é mais gostosa do que eu poderia imaginar.
- Eu nunca esperava isso de você.
Sorrimos, tomamos banho, nos secamos e fomos para a cama.
Ele estava exausto, e logo dormiu. Eu continuei acordada. Meu porre havia passado completamente. Passei a pensar no motivo pelo qual bebi. No porquê havia feito o que acabei de fazer. Pensei se agi certo. Pensei em Alessom. Olhei para o lado, seu rosto límpido dormia com tanta paz.
Comecei a chorar. Quem era eu, pra usar os outros como acabei da fazer?
Eu não tinha esse direito. Ele gostava de mim de verdade, e eu me aproveitei disso.
Tentei dormir, mas não pude. Levantei, tomei o café que Alesson havia preparado para mim, me vesti e saí. Fiquei a noite toda passeando de carro, sem saber o rumo que eu tomaria. Um vazio, uma tristeza, uma vergonha de mim mesma. Queria sumir, pelo menos por um tempo. Desliguei o celular e viajei, alias, esse sempre foi meu objetivo. Já havia uma mala no carro. Ninguém sabia. Apenas queria sumir. Foi o que fiz.
Perdoe-me. Alessom.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Espere pra ver.

Oi, muito prazer.
Sei que é estranho, mas
Agora somos apenas duas pessoas que, caso se encontre na rua, dirão “oi”. Mas aos poucos começaremos a conversar, descobriremos, então, que temos algo em comum.
Agora conversamos quando nos encontramos em festas; falamos sobre música, o ambiente, as roupas. Mas aos poucos nossos assuntos evoluirão para assuntos mais corriqueiros.
Agora somos duas pessoas que conversam sobre o filme de ontem, a política e a notícia do jornal. Mas aos poucos nossas conversas evoluirão para algo mais pessoal.
Agora conversamos sobre nosso passado, nossa família, nosso presente. Saímos juntos e nos divertimos. Mas aos poucos falaremos sobre as nossas ideologias, as idéias malucas para salvar o mundo e nossos sonhos.
Agora somos duas pessoas que dividem o mesmo ideal, buscando forças um no outro para alcançarmos o que desejamos. Mas aos poucos falaremos sobre sentimentos, pensamentos e medos.
Agora somos amigos para tudo e estamos sempre juntos nas horas de sorrisos e lágrimas. Mas aos poucos vais vendo que não é tudo em mim que lhe agrada e que tenho algumas atitudes egoístas e infantis.
Agora não nos vemos com tanta freqüência, não nos ligamos para ficar horas falando do que pensamos. Você agora muda de assunto quando chego, para algo que eu já sei. Mas aos poucos nossos assuntos serão política, filme e a notícia do jornal.
Agora conversamos sobre música que rola nas festas em que nos encontramos depois de um grande período sem se ver. Mas aos poucos, daremos “oi”, “como vai você” sem esperar a resposta, quando nos encontramos na rua.
Agora é você que está passando por mim...
Eu acho que é você...
Eu te conheço de algum lugar?

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sentir-se


Quantas vidas cabem em um mês?
Em um dia?
Em um ano?
Sei lá.
Podem caber num minuto, ou na idade do universo.
Mas não importa.
O tempo não importa. Nada importa. Apenas dois. Se agora sou vilão ou se sou somente coadjuvante. Não importa.
Não temos muitas escolhas, mas temos muitas possibilidades.
Cada mente é um universo, cada segundo tem uma infinidade de momentos.
Mais uma vez me pego pensando em “para sempre”.
Não sei se vai chegar logo ou se vai demorar, mas sigo em frente, esperando e fazendo acontecer.
Vejo-me no meio de uma multidão, o barulho é infernal e tudo o que ouço é uma respiração.
Ela está aqui, e me prende, me deixa surda, cega, muda.
Onde me encontro, não sei. Só sinto a respiração que me guia e tenta me tirar do meio da multidão, procurando um lugar em que estaremos a sós, para finalmente podermos nos tocar.
Pele com pele, corpo com corpo, respiração com respiração, vida com vida.
Estamos sós, estamos no nosso mundo. A terra do nunca, a nossa terra do nunca. Ou terra do sempre, se isso soar mais positivo. Estamos lá. Só nós. Somos o nosso mundo. Construímos nossa redoma e nada pode nos atingir.
Já vestimos nossa armadura e já selamos nossos cavalos alados. Agora somos somente nós. Estamos voando em direção a nosso castelo.
Ele cuida de mim enquanto sonho.
Eu cuido dele no meu sonho.
Sinto a vida entrar pelos pulmões e a adrenalina de se jogar sem medo percorre meu sangue.
Estou viva!
Eu posso sentir-te.
E você?
Sente-me?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Calor...


Tenho derretido, tenho perdido minhas formas pra algo mais liquefeito.
Ainda não sei como volto ao normal, se é que existe essa tal.
Se quero ser como era antes, preciso definir datas, pois já fui muitas ao mesmo tempo.
Mas meu corpo se liquefaz, derrete.
Sinto-me uma vela, e com o calor que gera seu pavio, derrete todo seu corpo.
Ainda sinto minhas pernas, elas me prendem ao chão.
Busco asas, as que eu tenho são de cera, não me permitem chegar tão longe quanto eu almejo.
Sempre busco mais, e tenho percebido não sou mais comum do que imaginava.
Tenho pensado em anéis, em mão juntas, em "para sempre".
Mas algo me puxa para trás. Talvez a realidade, talvez o medo de sair dessa realidade que apesar de cruel, me parece mais segura que meu infinito particular.
Quero me perder em mim e no outro, mas acabo me prendendo a um corpo, que me mantém na superfície.
Até onde vão meus passos?
Continuo a derreter...
Minha cabeça, meus pés, minhas asas.
Em quanto tempo se chega ao sol?
Vamos de noite, para não morrermos queimados.
E mais uma vez derreto, me fundo com outro corpo que sorrindo se oferece para derreter comigo.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Um lugar para as lágrimas.


Tenho andado com muita pressa. Não tenho aonde chegar.

Preciso de uma tarde de choro. Preciso chorar sem motivos, sabe, para descarregar minha alma. Senão poderei explodir.

As pessoa têm explodido, não sabem o porquê. Eu sei. As almas, elas estão carregadas, elas não sabem como se descarrega.

Elas reclamam que estão gordas, reclamam de dor de cabeça, reclamam de dores nas costas, e não percebem que tudo isso é porque estão carregando muito peso.

Eu estou gorda, estou com dor de cabeça, com dor nas costas.

Preciso chorar.

Tantas coisas aconteceram em minha vida e no mundo, coisas importantes, mas não chorei, ou melhor, chorei, mas não o suficiente para a ocasião.

Um amor quebrado e jogado fora como um sapato que não coube mais.

Uma vitória alcançada, entre tantas derrotas.

Uma volta por cima.

Uma tentativa de recomeço.

Uma frustração dessa tentativa.

Um novo começo que não é um recomeço.

Um não, e mais uma derrota para a coleção.

Tantas coisas importantes sendo levadas como cotidianas.

Será que estou perdendo minha sensibilidade?

Eis uma das coisas mais preciosas pra mim.

Ao lado da inocência.

Onde posso me refugiar?

Onde vou encontrar lugares para poder sentar e chorar sem que ninguém me pergunte “Por que você está chorando?”?

Quem souber, me salve!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Relações


Sempre que ele procurava por ela, ela não estava. A porta do quarto trancada era a privacidade que ela queria. Ele buscava dar valor pois sabia que o tempo era curto. Outras pessoas atravessavam sua fortaleza, ele olhava de longe, desejando fazer parte daquela vida.
Ele fechava os olhos e, com dor, lembrava do dia em que a perdeu. Ele quebrou as regras e ela se trancou no seu mundo, protegendo-se.
Ele lembrava dela dormindo como um anjo, ele apreciando sua face atravéz do mosqueteiro cor-de-rosa.
A pouca idade dela não era argumento que poderia ser usado. Ela não derrama uma lágrima, e se esforçava para ser merecedora do que queria.
Ele a observava de longe, poucos sabiam o motivo de sua tristeza.
Ela preferia um estranho a ele, como companhia. Mas ele se manteve ali, ao lado da porta dela, com esperança viva e forte.
O tempo passando, ela se tornando uma bela mulher. Ele ficando mais velho, se tornava cada vez mais apagado. Mas ele ainda tinha esperanças.
Chegou o dia em que ela sairia de casa. Fez as malas e sorridente se despediu dos pais. Eles a abençoaram. Ele olhava a cena sentado à mesa da cozinha.
Quando ela caminhou em direção à porta de saída, olhou-o de canto de olho e perguntou se ele poderia ajuda-la com a mala, que estava pesada.
Uma luz tomou conta de seu ser. Ele havia triunfado, e o dia do perdão chegou.
Já no carro, ela o abraçou docemente dizendo que sentiria falta da participação a distancia, que ele tinha em sua vida.
Novamente ele sorriu, beijou sua testa, fechou o porta-malas.
O carro saiu da garagem e seguiu viagem. Ele voltou à porta de casa, e abraçou a mãe, que olhava com lágrimas nos olhos sua outra filha que partia. Ele sorriu abobadamente tendo certeza de quem era amado.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Plus un clouple


Ela adorava um bom conhaque, com um Engove antes e outro depois.
Ele adorava o Senhor, e acreditava que "Só Jesus Salva".
Se conheceram no AA. Ele coordenava, era o primeiro dia dela.
Ela acreditava que só depois do sexo pode-se saber o quanto se gosta de alguém.
Ele era virgem, queria se casar assim. Tinha uma noiva há sete anos.
Os olhares trocados foram fatais.
Os dois empregos que ela tinha a deixavam com olheiras.
Os pais dele haviam construídouma vida estável que ele herdaria.
O primeiro beijo foi perto da máquina de café, depois de uma reuniãoquase vazia.

Ele terminou com a noiva alegando imaturidade.

Ela largou um emprego e foi fazer mestrado.

Sairam juntos algumas vezes.

Ela frequantava a igreja uma vez por semana.

Ele fazia sexo oral nela.

Os dois pareciam felizes e até falaram em alugar um apartamento, em um bebê dos dois.

Mas ela precisava do sexo pra saber o quanto gostava dele.

Ele queria casar o mais rápido possível, pois não agentava mais sua virgendade.

Por mais bonita que fosse a relação, ela chegou ao fim.

Ninguém entendeu.

Já separados, ela chegou à reunião do AA com um olho roxo. Havia bebido naquela noite.

Ele quiz saber o que tinha acontecido, se julgava amigo dela, mas ela não achava o mesmo e mandou ele tomar no cu, cheirando à vodka barata.

Ele jurou que a ajudaria, mesmo que ela não quisesse.

Correu atraz de motivos, enquanto ela ia cada vez menos às reuniões.

Ele sonhava, ainda, com os dois casados.

Ela dava pra qualquer um num beco qualquer, e depois descobriria que não sentia nada por eles.

Um dia, ele percebeu que sua missão era maior. Que ele teria que salva-la dela mesmo.

Ele foi ao apartamento dela e esperou ela chegar.

a escuridão e o alcool nas veias não deixaram que ela percebece nenhum movimento estranho.

Aos poucos, vewias foram se abrindo e sangue foi escorrendo.

Ele decidiu mata-la, pois só assim ela encontraria sua salvação, mesmo que ele perdesse o paraíso.

Mas na hora H, o sangue escorrido era o dele. Ele percebeu que se ela o visse morto, mudaria tudo.

Ele teria dado a vida para salvar outra. Teria cumprido sua missão.

E se falhasse, não mereceria nem mais a vida enm mais o paraíso.

Hoje ela orienta o grupo dos AA, no logar dele.

EStá a quatro anos sem beber.

A tarde, da aula em uma creche e molesta as crianças, quando completam dez anos.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Mais do Mesmo


Quantas solidões podem caber num mesmo espaço, de tempo ou de qualquer coisa mais. Os dois pesos e as duas medidas usadas anteriormente já não se aplicam agora e tudo mais pode se perder num simples sopro. Nossas carências se combinam, se encaixam, assim como seu sexo no meu. Mas assim como no sexo, que se finda no segundo mínimo que é o goso, nossas afinidades passam a ser diferenças e passamos a preferir nossas solidões solitárias à nossas solidões compartilhadas. Nos voltamos para nós mesmo, e começamos a sentir o que chamamos de amor próprio, e eu prefiro chamar de auto-piedade. Fujimos de tudo e de todos a procurar quem nos tire dessa solidão.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Imagem em ação


Se no mundo há prazer, ele é carnal.
Se não há, estou no caminho certo.
Sozinha, vejo aqueles que acenam e sorriem.
Eles querem realmente me fazer feliz?
Será que eles somente querem que eu os faça felizes?

Não.
Não fui feita pra cuidar de ninguém.
Me fizeram, devem cuidar de mim.
Pelo menos é essa a conclusão que chego quando me mostro tão forte, tão decidida e nada satisfeita.
Quero me deixar levar pelo meu corpo, que este seja o guia de minhas emoções.
No espelho meus olhos inchados revelam minha complexa condição de incomplitude.
Tenho razões que nem eu mesmo explico. Crio fantasias que se tornam reais para mim, servem de referências e que posteriormente, nem mesmo eu saberei dizer o quanto daquela situação foi invensão.
Meu quase primeiro beijo: Ele vinha mesmo pra me beijar quando a outra atrapalhou? Eu acho que sim, mas por vezes me pergunto.
E Ele? Será que ele vai passar uma noite na minha casa porque veio me deixar de taxi e não tinha mais dinheiro pra voltar para sua casa, só daí ficamos, mas não rolou nada mais que beijo na boca?
Essa história é intereçante!
É o primeiro beijo dos meus sonhos, atualmente. Eu já tive um primeiro beijo dos meus sonhos, com alguém que por tempos me fez feliz. Mas meu sonho mudou.
- Pra qual time tu torçes?
- Acreditas em Deus?
- Qual teu maior sonho?
- E o menor?
Isso são perguntas que se faça?
Sim.
E elas são feitas de forma a não poder se esconder a verdade.
Assim como eu digo: CALOMBO CALOMBO CALOMBO, QUEM DESCOBRIU O BRASIL? O que você vai responder?
E as perguntas continuam e você continua a ser enganado.
São pegadinhas que sua mente cria e você cai, como um patinho. Ela cria armadilhas, assim como pode criar escapatórias.
A vida com criatividade é bem mais divertida.
É só se deixar levar. Apagar a tênue linha que existe entre suas ilusões e o que os homens chamam de realidades. Confundir sua cabeça assim como ela as vezes te confunde.
Os homens infelizes, aqueles que não tem imaginação, vão afirmar que existe o real e o imaginário. Vão te chamar de louco, mas vale a pena.
Garanto, você pode ser o que quiser.
Não são eles que vão delimitar. Só se você deixar.
Eles são tristes, insatisfeitos. Acham sempre que a felicidade está além do alcance, quando ela pode estar ao lado de quem teima em procura-la lá longe.
Eles vão continuar pra sempre tristes, enfeiando o seu mundo o mundo de quem convive com eles.

LIVREM-SE DE PESSOAS SEM IMAGINAÇÃO.
AFASTEM-SE DELES, POIS ESSA DOENÇA É CONTAGIOSA.

A minha também é.
Para aqueles que ainda não tomaram a vacina contra a felicidade.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Bastidores


(Chico Buarque)





Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
E me tranquei no camarim
Tomei o calmante, o excitante
E um bocado de gim

Amaldiçoei
O dia em que te conheci
Com muitos brilhos me vesti
Depois me pintei, me pintei
Me pintei, me pintei

Cantei, cantei
Como é cruel cantar assim
E num instante de ilusão
Te vi pelo salão
A caçoar de mim

Não me troquei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que tu nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar

Cantei, cantei
Nem sei como eu cantava assim
Só sei que todo o cabaré
Me aplaudiu de pé
Quando cheguei ao fim

Mas não bisei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que nunca mais vais voltar

Cantei, cantei
Jamais cantei tão lindo assim
E os homens lá pedindo bis
Bêbados e febris
A se rasgar por mim

Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim

sábado, 28 de junho de 2008

Palavras...

Fogo

Roda

Manivela

Tear

Trem

Carro automóvel

Imprensa

Telefone

Do ábaco

Computador

Chip micro-chip

Nano-tecnologia

Anticoncepcional

Mini-saia

Sutiã

Calcinha comestível

Boneca inflável

Camisinha

Camisola

Vibrador

Cd

Dvd

Orkut

MSN

Celular

Câmera

Digital

Mp4

Aids

Hip hop

Mundialização

11 de setembro

Katrina

Tratado de Kioto

Bio-combustível

Fome

Mc Donalds

Homosexualidade

Homofobia

Amy Winehouse

Pirataria

Bio-pirataria

Amazônia

Desenvolvimento Sustentável

Fumaça

Fibra Ótica

Drive

Pen drive

Anorexia

Depressão

Sindrome do pânico

Botões

Luxo

Apocalipse

terça-feira, 24 de junho de 2008

Vultos

Minha mente volta a se complicar, tenho de já vu’s.

Vejo ao longe um barco chegando no porto e trazendo almas prisioneiras, e que quase se esmaecem, sem vida.

Ainda sinto um vento frio cortando minha espinha e me impedindo de respirar profundamente.

As almas me chamam e pedem para que eu volte ao meu lugar, um lugar que eu nunca estive.

Tenho espasmos elétricos cada vez que essas almas me tocam, e me livro delas com um soco.

Mas elas voltam intactas, invulneráveis, tentando me levar para onde eles acham que é meu lugar.

Me revolto com isso.

Por que eles sabem do que eu preciso e eu não?!

Não quero mais a presença desses servis indesejáveis, tentando me mostrar o que devo fazer.

Sinto-me a princesa que pode tudo, por ser rica, mas não pode nada, por ter que se mostrar respeitável.

Tenho nojo dessa palavra: RESPEITÁVEL.

E tenho nojo da maioria das pessoas que as aplicam.

Prefiro continuar com minha consciência semi lúcida, que nasce de vez, para esse mundo, que arranca minha peresonalidade, e me vestem como uma capa de pessoa muito bem sucedida por que tem boa remuneração.

Mas só a remuneração?

O que mais me é oferecido.

Já não sei. Pretendo descobrir um por um.

E ainda tem gente que duvidas em todo o mundo.

Boa noite, beijos, até amanha, possivelmente..

sábado, 19 de abril de 2008

(conversa captada no ônibus)


-Você sabe história?

- Sei.

- Em que ano foi abolida a escravidão?

- Não sei.

- 1788.Quantos anos tinha Dom Pedro I quando proclamou a independência?

- Não sei.

- 24.

Eu não nasci doida...

Eu nasci boa, a maldade do homem é que me deixou doida...

Eu sou esquizofrênica, e fui puta...

Em nenhuma das duas vidas, ninguém me respeitou.

Eu não sou burra... Do you speak english?

- Não.

- Parle italliano?

- Não.

- Vous parlêz français?

- Não.

- Hablas español?

- Não.

- Hum. Conhece New Orleans?

- Não.

- Sabe história?

- Um pouco.

- Dom Pedro I tinha muitos nomes, não era? Um deles era o meu, Orleans...

Dom Pedro I tinha 24 anos quando declarou a independência do Brasil...

Eu fuji de casa com 18.

Minha irmã foi comigo. Ela tinha 15 anos.

Fomos pra são Paulo, sem nada, só com a cara e a coragem...

Eu era puta. E puta das gostosas.

Um cara que me deu carona queria me comer, mas eu sou escrota, disse que não. Ele disse que eu seu não desse ele me dava um tiro. Eu disse que ele ia comer um corpo morto. E to aqui até hoje. Ele me deixou na estrada e aí eu peguei um caminhoneiro que me levou direitinho...

Lá em São Paulo eu virei puta pra minha irmã poder estudar.

Depois eu fui pro Rio, pra estudar, de verdade.

Tava voltando da escola quando fui estuprada. Ele me sufocou muito forte e deu derrame no meu olho. Fui no hospital e fiz B.O. e eles ficaram rindo da ironia de uma puta ser estuprada... Depois disso voltei pra Belém.

Aqui continuei a ser puta. Peguei um cara que quando eu terminei, ele me empurrou do carro. Ele tava muito rápido. Foi aí que eu bati minha cabeça e fiquei doida...

Minha parada é aqui.

Tchau.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

- O que você faria se hoje foi seu ultimo dia?


A voz gritava em minha cabeça, insistente e irritante.

- O que você vai fazer já que hoje é seu ultimo dia?

É só mais um dia, pensei eu, na minha caminhada pelo mesmo caminho que eu fazia todos os dias, em direção à minha universidade.

A voz continuava a gritar na minha cabeça e eu não queria parar de andar ou mesmo desviar meu caminho. Finalmente parei, estendi meu braço e um ônibus estacionou ao meu lado abrindo suas portas. Entrei, paguei minha passagem, passei a roleta e sentei. Passei a cantarolar alguma música que tinha escutado naquela manhã. Mas já não lembrava de letra alguma. Apenas a voz que voltava a gritar na minha mente: O que você vai fazer? Hoje é seu último dia.

O ônibus dobrou em uma rua que não estava previsto para ele dobrar. Olhei ao redor, e os rostos não eram conhecidos, só agora percebi que aquelas não eram as pessoas com quem havia pegado ônibus durante os quatro anos de universidade. Aquelas pessoas que eu via todos os dias ma que eu nunca havia trocado sequer uma palavra. Dessas pessoas que quando você encontra fora do contexto, sente vontade de falar com ela, por achar que já a conhece de alguém lugar, só não sabe de onde. Mesmo essas pessoas, esses coadjuvantes na minha trajetória diária, mesmo eles não eram eles. Tudo estava estranho naquela manha cinza.

O ônibus seguiu seu caminho, e eu percebi que não era ele que eu pretendia ter pegado.

Desci na próxima parada, sem saber muito bem onde eu estava.

A voz voltara a incomodar:

- O que você vai fazer já que hoje é seu ultimo dia?

A rua não tinha asfalto. Era estreita, mal tinha espaço para andar enquanto o ônibus passava pelo lado. Precisei pisar na lama:

- Meu mocassim novo, todo sujo! – Pensei. Mas a voz gritava:

- E daí? Esse é seu ultimo dia!

Continuei andando. À frente, homens e mulheres sentados no chão, em circulo. Eles estavam com as roupas sujas e sobre suas cabeças, uma nuvem de fumaça. Eles me viram chegando. Olharam para mim de forma curiosa. Aproximei-me da roda e sentei ao lado deles. Um deles disse, enquanto tirava meu casaco:

- Você não vai mais precisar disso, não é? – A voz respondia só pra mim:

- Claro que não, esse é seu ultimo dia.

Deixei que ele tirasse o casaco.

Uma moça suja deitou-se no meu colo. Aninhou-se como se fosse dormir. Perguntou:

- Você me deseja?

Fiquei enojada com aquilo, pensei:

- Claro que não, sou uma mulher, sou hétero, só gosto de homens. – Mas a voz rebatia:

- Para que ocultar seus desejos até de você mesmo, se hoje é seu ultimo dia?

Meio desnorteada, me inclinei e beijei-a. Ela segurava a minha cabeça e pressionava contra a dela.

- O que eu estou fazendo? E se esse não for meu ultimo dia coisa nenhuma? Como vou continuar com essa vergonha? O beijo é bom. Se ninguém ficar sabendo, não há porque ter medo. – Pensava eu, enquanto a moça tirava minha blusa, beijava meus seios e me acariciava por debaixo da saia. Acabamos transando ali, no meio da rua. Muitos homens nos olhando, eles não pareciam se importar e nem se agradar com o que estávamos fazendo. Eles continuavam a fumar e manter a nuvem sobre nossas cabeças sempre densa.

O sexo acabou, nos vestimos e eu pequei um daqueles que eu nunca havia me permitido. A sensação de leveza era tanta que eu seria capaz de flutuar, ir até o céu.

Levantei-me, dei um beijo na boa de cada um e continuei a andar.

A paisagem foi mudando depois de um tempo de caminhada.

Havia agora bem mais pessoas circulando, as ruas não eram estreitas e vários carros passavam por ali.

Elas me olhavam de uma forma estranha por eu ter minha roupa rasgada e suja. Ninguém queria chegar perto de mim.

O relógio da igreja soou onze badaladas.

A voz voltou a falar, só que dessa vez foi um sussurro:

- O que você vai fazer já que hoje é seu ultimo dia?

Sentei na calçada. Uma senhora com roupas finas e boa maquiagem parou ao meu lado, me olhou da cabeça aos pés, e virou a cara. Levantei imediatamente:

- Que mulher tola e ignorante é a senhora! Ou a senhora acha que quem é “mau caráter” ladrão vai estar dizendo assim na cara de pau que é ladrão? Claro que não, eles se disfarçam, e pode ser qualquer um, por falar nisso cuidado com esse cara de gravata que está olhando só pra sua bolsa. Certamente vocês podem ficar, namorar, casar, mas no momento em que ele olha pra a sua bolsa da Prada, e não para o seu rosto, dá pra ver exatamente o que ele quer com isso.

A senhora nem virou pra ver quem estava falando. Seguiu seu caminho.

Uma chuva forte e límpida começou a cair. Eu olhava para o céu e a água que lavava meu rosto também lavava minha alga.

Levantei-me e comecei a caminhar pelas ruas, a voz já não me atormentava. Agora conversava comigo amigavelmente:

- Pois é, o que você acha de hoje ser o ultimo dia da sua vida?

Caminhando pelas ruas, disse oi pra todos. Alguns fingiam que me conheciam, outros simplesmente não olhavam, alguns poucos perguntavam se eu estava certa de que eu os conhecia, geralmente os bem idosos.

Em uma praça, a apresentação de um grupo folclórico. Eles ascendiam minha alma.

Dancei, gritei, rebolei, cantei músicas que eu nunca havia ouvido falar. Subi no palco e dancei de várias as formas possíveis...

O dia estava acabando, eu não havia morrido. Havia sobrevivido.

Estava voltando pra asa feliz e bem, eis que um carro qualquer fura o sinal e me tropela. Morri nesse isntante. A voz não falava mais nada.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Pelas ruas


Andava com pressa.

Eram seis da tarde, mais ou menos, mas parecia bem mais tarde.

Estava atrasada...

Andava quase correndo. Olhava sempre pro relógio, e sabia que eu estava atrasada.

As ruas movimentadas e eu mal via quem passava ao lado.

Parei. Tinha que atravessar a rua. O sinal estava aberto para os carros. Esperava ansiosa pela abertura do sinal. Olhava novamente o relógio de pulso. Minhas pernas tremiam. Queria andar logo, eu estava atrasada.

Algo segurou minha perna. Gelei de medo. Receosa, olhei para o chão.

Lá, algo enrolado em trapos podres. Uma mão com pele seca, escura, segurava minha perna. Pelos que um dia poderiam ter sido chamados de cabelos.

Aos poucos, a cabeça daquele ser se levantava, e ia revelando para mim um rosto esquelético, com os olhos grandes e saltados. Na face, nenhuma carne, apenas pele e osso. Não haviam dentes naquela boca escura, com lábios secos e finos. A língua se mexia tentando balbuciar alguma coisa que eu não mal escutava.

Sentia nojo, e queria me livrar daquele ser que segurava minha perna. Meu rosto refletia o terror que vi no filme da tela quente da última segunda-feira. Mas aquele rosto refletia o terror de filmes reais que se passavam todos os dias.

Ele tentou falar algo, mas eu estava com nojo. Ainda ouvi ele dizendo:

- To morrendo, me dá comida.

O sinal se fechou para os carros. Abriu-se pra minha fuga. Caminhei depressa atravessando a rua não querendo olhar para trás, mas não consegui, eu olhei.

Na beira da calçada permaneceu aquele monte de trapos podres que acabara de falar comigo. Na verdade, ele gritava sua fome com todo as suas forças, que não passava de um sussurro.

Eu dizia para mim mesma:

- Eu não podia fazer nada. Ele ia morrer de qualquer forma mesmo. Além do mais, estou atrasada.

Assim consegui afastá-lo do meu pensamento.

Continuei andando, com pressa olhando para o relógio de pulso. Eu estava atrasada.

Cheguei a um prédio grande, com as paredes de vidro argentino. Meu destino. Na frente, uma faixa muito grande em que eu li:

GRANDE FORUM MUNDIAL CONTRA A FOME.

Chorei.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Formigas?


São 4:00h da manhã, eu estava deitada na minha cama pensando em reforma das calçadas pra os deficientes visuais.
- Quantas calçadas reformaram! Será que eles estão pensando verdadeiramente em acessibilidade?
Mas um barulho que vinha de baixo da minha cama, que começou fraquinho, mas aumentava aos poucos começou a me irritar. O barulho era como gotas caindo em uma tampa de ferro, ou lata. Mas era baixinho, lá longe, lá do fundo da parte de baixo da minha cama. Mas o longe estava virando perto e o barulho se tornava insuportável. Respirei fundo, contei até dez, várias vezes, mas o barulho crescia e iria furar meus tímpanos. Tentei ignorar, mas não dava, o barulho estava cada vez mais dentro da minha cabeça.
Ainda deitada na cama, me curvei pondo a cabeça lá pra baixo. Gritei a plenos pulmões:
- Pelo visto já fizeram o dever de casa e agora querem brincar. Pois vão brincar na rua da casa da avó viúva de vocês!
O barulho acelerou seu ritmo, mas a intensidade que só crescia agora dei uma pausa. O ritmo aumentava a altura permanecia a mesma. Comecei a sambar ao som de um barulho irritante.
E até que estava divertido, o samba dos meus pés não obedecia o ritmo, mas dançavam direitinho, no ritmo de não sei o que.
Nesse instante, entra no meu quarto um batalhão de formigas, marchando em filas como se estivessem em uma guerra. Ao ver essa proeza, parei de sambar e cai dura na cama, como que desmaiada, mas ainda via tudo o que estava acontecendo. As formigar subiram organizandamente na cama, foram pra baixo de mim, e antes que eu me desses conta, estava sendo carregada por formigas que andavam em um ritmo mais organizado e sincronizado que qualquer nadadora russa.
Eles me levaram para seu ninho, indo por baixo da cama da minha mãe.
Me botaram em frente à uma abelha, que eles chamavam de formiga rainha.
Ela ficava me olhado.
Ouvi cochichos.
- Será que agora ela volta ao normal e trata de tudo como a formiga que ela é.
Ele é louco. Ela é rica?
Eu disse:
- Mas ela é uma abelha, e não uma formiga.
Ainda me falaram:
- Não não, ela está sofrendo com crise de identidade desde que o outro lá não está aqui. Ela foi pra guerra e morreu, segundo a lenda, mas era mentira, ela se escondeu e pra não correr riscos de ferir não envolvidos, só atirava bem de pertinho. Ela voltava pra casa, já vitoriosa e se escondendo das abelhas, mas ouviu muitos tiros de perto e isso fez seu miolo derreter. agora ela acha que é uma abelha. Então amarramos ela e nos comportamos como formigar, pra ela ter certeza do que ela sabe fazer.
Mas, usando seus métodos de "persuasão" até o papa abre o coração e te conta todos os pecados.
Eles vão conseguir convence-la e quando isso acontecer terei virado comida de formiga velha e louca.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Máscaras


Sentia-me rica. Talvez eu realmente fosse rica.

Tinha uma grande casa, uma grande piscina, um jardim gigantesco. Tinha roupas maravilhosas, tinha empregados. Tinha tudo o que eu gostaria de ter.

Tudo na minha casa acontecia através de simples toques em botões.

Tocava em um botão e a porta se abria.

Tocava em um botão e falava com quem quisesse.

Tocava em um botão e minha comida estava posta.

Tocava em alguns botões e eu estava banhada, vestida, penteada e maquiada para arrasar alguns corações frágeis que se deixam levar por minha aparência.

Deixava-me levar, agia como era de acordo para alguém na minha posição (segundo não-sei-quem).

Mês eu tinha um esconderijo. Tinha um lugar para onde eu ia e me escondia do mundo. Era meu cofre. Este cofre tinha tudo o que realmente me importava, coisas da minha infância. Fotos, bonecas velhas, canetas cheirosas, cds de artista que não ousava mais escutar, mas que fizeram parte de mim, cartinhas de amigos, uma chave (que não se o que abria), e muitas e muitas coisas. Somente eu poderia entrar nesse cofre, ele era o meu lugar. Para adentrar-lhe usava minha impressão digital.

Continuava minha vida de mulher rica, poderosa que agia de acordo com os maiores rigores da sociedade. Eu era respeitada pela imagem casta e séria que havia construído.

Uma imagem que eu mantinha acima de tudo. Mas meu verdadeiro eu estava ali guardado, dentro do meu cofre. E sempre que quisesse, eu ia lá, tirava minha máscara e respirava.

Assim eu continuava, eu sobrevivia, as vezes tão ocupada que demorava a voltar a me encontrar comigo mesma.

Mil botões apertados, mil problemas apresentados, mil problemas resolvidos. Vil faces usadas.

Muito tempo se passou, mas eu estava tão ocupada que nem saberia ao certo dizer quanto tempo foi.

Um dia, acordei sufocada, não podia respirar, não sentia a mim mesma. Foi assim que eu lembrei que havia uma coisa que eu sempre fazia para poder respirar melhor. Pensei, pensei, e vinha na minha mente, lá longe, um lugar na minha casa, um lugar que eu me escondia para ser eu mesma.

LEMBREI!

Era uma sala, um cofre. Lembrei sua localização. Fui até lá. Pus meu dedo indicador sobre a tela identificadora, para que a porta se abrisse. Mas nada aconteceu. Coloquei novamente, mas ainda nada acontecia. Tentei mais uma vez e ainda assim nada aconteceu.

Foi então que olhei para meu dedo, e o que vi me assustou. Fiquei perplexa, o ar que já era raro se tornou mais difícil de se puxar. Meu dedo não tinha digital. Não havia impressão nenhuma sobre ele. Os botões da minha vida fizeram eu perder o contato com o que eu realmente era.

Não restava nada a fazer a não ser me tornar definitivamente o que eu estava fingindo ser.

“Quando se usa a máscara por muito tempo, pode acontecer de que até você esqueça quem é de verdade” (V de Vingança)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Olhe para as mãos



Estava sentada em um banco de praça. Estava escuro. As luzes dos postes iluminavam apenas alguns pontos pequenos.
Estava silêncio. Estava barulho. Não sei bem.
Sei que eu não ouvia nada, ou talvez não quisesse ouvir.
Eu estava sozinha, como sempre estive, ali ninguém passava por perto de mim.
Há um certo momento, comecei a ouvir vozes, conversas e risadas, não consegui identificar qual a língua que falavam, eles falavam muito rápido e estavam muito distantes. Olhei ao meu redor, mas o breu continuava. O vento era frio, mas não chegava a incomodar. Fazia arrepiar os pelinhos do meu braço, mas isso era uma boa sensação.
Um homem chegou, apenas um homem, um homem que de início, não conhecia. Ele sentou no banco em frente ao meu, e um poste de luz iluminava-o. O poste dele tinha um defeito. Ele piscava, e ameaçava queimar.
O homem; que antes eu não reconhecia, mas agora via algo nele que me trouxesse alguma lembrança; cruzou as pernas em cima do banco, como na posição de meditação. Olhou bem para mim. Ele estava sério. Me olhava nos olhos, bem fundo. Eu me sentia atingida por aquele olhar, como se me cortasse a alma. O olhar dele me incomodava. Pensei em desviar o olhar, queria olhar pra outro lugar, qualquer outro lugar. Mas seus olhos cortantes me prendiam, eu não conseguia ver mais nada, apenas seu olhos e seus lábios, que se mexiam, dizendo algo que tentei entender. Mas não sou boa em leitura lábial, então apenas olhava para a sua boca se mexendo, falando coisas que eu não entendia. E meu olhar estava preso. Olhos e lábios. Era em que aquele homem se resumia. Seus olhos seus lábios, e minha mente buscando-o nos mundo que eu já havia vivido.
Sim, ele estava lá, bem no fundo de minha memória, eis que eu o encontro. Era ele, aquele que ficava acordado durante a noite para me ver dormir. Isso foi há muito tempo. Ele passava noites em claro, em ficava me olhando enquanto eu dormia e sonhava com ele. E ao acordar, quão bela era a surpresa, pois ele que habitava meu sonho, estava ali na minha frente, me olhando. O seu olhar me acalmava, me enchia de luz e paz.
Sim, eu o encontrei na minha memória, mas não parecia a mesma pessoas. Antes seu olhar me dava paz e agora me dava medo. Eu só o olhava, já que não podia fazer outra coisas.
Mas seu olhar estava estava me queimando e as palavras que ele dizia e que eu não escutava eram tão altas que me deixavam surda.
Depois de muito tentar, consigo fechar meus olhos, e tapar meus ouvido, e só consigo fazer isso junto com um grito desesperado de dor e angustia. Era muito forte.
Me libertei.
Sentia-me liberta.
Mas eu era tola.
Depois de liberta da prisão que era o seu olhar, não resisti a tentação de olha-lo mais uma vez.
Ele já não me olhava. Abria uma bolsa que estava ao seu lado. Tirou dela um enorme pedaço de plástico bolha. Ele estourava as bolhinhas, e a cada uma estourada, sua expressão era de quem tinha um orgasmo. Estourava uma por uma, devagar. Olhei para minhas mãos, e meus dedos estavam cheios de nós nas juntas. Tentei estrala-los, mas eles não faziam som algum. Uma lágrima caiu dos meus olhos. E ele continuava a estourar as bolinhas.
Ele se empolgava mais e mais com cada bolinha estourada, se enrolava no plástico procurando bolhas que não estivessem ainda estouradas. E o plástico foi tomando conta de seu corpo. Eu via tudo aquilo com lágrimas nos olhos.
Ele se enrolava, e estourava ainda mais bolhas. Ele já estava completamente preso ao plástico, com bolinhas já estouradas. Ele não via isso. Eu chorava. Ele continuava a estourar as bolhinhas, e o plástico já estava tomando conta do seu rosto. Ele não percebia, eu chorava.
O plástico tomou conta do seu corpo e de seu rosto, ele já não respirava, mas não parava de estourar as tais bolhas. O plástico o sufocava. eu sentia vontade de me levantar e salva-lo, mas quando ia fazer isso, ele me olhava e me prendia novamente onde eu estava sentada. Voltava a estourar. Ele não mais respirava, mas não parava de estourar.
O ar lhe acabou, mas ele estava tão concentrado em estourar as bolhas que nem ele mesmo percebeu quando morreu. Ele caiu ali, morto, enrolado no plástico das bolhinhas.
Eu queria ter podido ajuda-lo, mas ele não deixou. Talvez ele não quisesse ser ajudado.
Amanheceu, ou pelos menos, clareou.
Agora eu já via de onde vinham as vozes que antes eu escutava.
Olhei para minhas mão e tentei estralar meus dedos. Eles estralaram. Surgiu em meu rosto um sorriso de canto de boca e uma última lágrima.
Me levantei, e andei em direção às vozes que eu ouvia e que pareciam tão felizes.